Moro aqui em baixo, milagrosamente respiro, e o olhar tem de se adaptar à luz que
          há
mas uma coisa é essa contingência: ter de se adaptar à que há,
outra é a necessidade absoluta em não se acomodar nem se habituar à sua
           tradicional ocultação
e nisso favorecer a sua destruição.

observar a jusante da corrente, leva-nos em direcção à foz, ao sabor da corrente.
observar a montante da corrente, significa ir à nascente, abordar a origem, contra a
           corrente.

assim, junto à floresta que ainda não ardeu, ao rio que ainda não secou e ao homem
           sem qualidades
que não “progride”,
diante do inocente legado espiritual
sempre a acender-se e a apagar-se
dedico isto ao primeiro homem que constatou a extinção do homem,
dedico isto ao primeiro homem que traçou o sentir
pela primeira vez
com a mesma estupefacção.

Manuel Zimbro, Torrões de Terra, notas de um lavrador para encontrar o céu e a terra

 

 

Mais importante do que desenhar é afiar o lápis é um seminário contínuo e colectivo de desenho que reúne um conjunto de artistas, autores e curadores cujo trabalho tem preocupações educativas e ecológicas. Ocorrerá durante os meses de Setembro de 2018 e Abril de 2019, nas salas da Porta 33, para um público muito abrangente, fazendo coincidir seminário e conferências, num regime de partilha de conhecimentos e práticas cujo sentido último é a aplicação na vida comum e real. Um seminário é uma sementeira, um canteiro onde se semeiam vegetais que depois serão transplantados - o mote que seguimos neste seminário contínuo é o da troca, da partilha e da economia de meios. Desenhar para pensar, projectar e poupar recursos e meios. Como dizia Manuel Zimbro, se os homens desenhassem mais haveria menos guerras.
O desenho é a mais transversal das disciplinas. É mesmo uma (in)disciplina. Não se conforma a nenhuma categorizarão, vem antes das linguagens artísticas, participa de todas elas, equivale ao pensamento e ao projecto, existe sem ter de ser formalizado.
Podemos traçar, pelo desenho, a história da Porta 33. A porta é um lugar de encontro, de procura, de maravilhamento, numa Ilha que sempre soou distante e fascinante aos artistas que com ela e nela trabalharam. Podemos dizer que o desenho se constitui como a respiração, a pulsão, o pensamento do fazer artístico. Ora, foi precisamente pelo desenho que o espírito e o programa da Porta 33 se construiu e teceu as ligações ao território onde teve origem e onde vem sendo um balão de oxigénio, um projecto de respiração partilhada por aqueles que procuram uma comunidade pela arte. 
Mais importante que desenhar é afiar o lápis reúne um conjunto diverso e singular de colaborações: António Poppe e Joana Fervença, Eglantina Monteiro, Laetitia Morais, Liliana Coutinho, Margarida Mendes, Marta Wengorovius, Nicolau da Costa, Paulo David, Pedro A. H. Paixão, Rui Horta Pereira, Rui Moreira, Sara Bichão e Manon Harrois, SKREI, Tânia Nunes, Tomás Cunha Ferreira, entre outros a anunciar.

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