pelas SOMBRAS
um filme com Lourdes Castro
realização Catarina Mourão


Autoria: Catarina Mourão, Lourdes Castro | Realização: Catarina Mourão | Imagem: Catarina Mourão | Som: Armando Carvalho | Montagem: Catarina Mourão e Pedro Duarte | Formato: Betacam Digital | Stéreo | 4:3 | Duração: 83 minutos | Produção: Laranja Azul - Catarina Mourão com Patrícia Faria e Catarina Alves Costa | Co-Produção: RTP2 | Apoio Financeiro: Instituto de Cinema e Audiovisual | Ministério da Cultura | Serviço de Belas-Artes da Fundação Calouste Gulbenkian | Direcção Geral das Artes | Fundação de Serralves

Auditório Casa Museu Frederico de Freitas

Dia 30 de Abril, às 17 horas

Seguido de conversa com:
Lourdes Castro, Catarina Mourão,
João Fernandes (Director do Museu de Serralves)
e Maurício Pestana Reis (Porta 33)

PORTA33

Dias 2, 3 e 4 de Maio
Às 16 horas e às 19 horas (duas sessões)

Dias 9, 10 e 11 de Maio
Às 16 horas e às 19 horas (duas sessões)

Uma entrevista com Catarina Mourão

por Leonor Nunes



O que mais a surpreendeu no universo de Lourdes de Castro, ao longo da feitura do filme»

Antes de arrancar para o filme , sinto que já estava bastante próxima do universo da Lourdes Castro, no entanto è evidente que com o passar do tempo o retrato desse universo se torna mais rico e complexo. Aquilo que me continua a surpreender no universo da Lourdes é uma capacidade incrível de estar atenta ao pormenor e de conseguir uma harmonia muito grande entre a sua vida e a obra. A criatividade e o prazer em fazer as coisas estão sempre presentes em qualquer gesto, independentemente deste resultar numa obra da artista ou se esgotar no quotidiano.

Como foi essa experiência?

Como todos os filmes foi um caminho, onde temos de fazer escolhas. Neste caso tratando se de uma personagem é um caminho que passa por conhecer essa pessoa e perceber como vamos representá-lo no filme. Por muito que tentemos que a pessoa filmado se reveja no retrato que dela damos, no fim há sempre uma construção da personagem e do seu mundo. Há uma história que se quer contar que tem uma verdade mas que não pode conter todas as verdades. No caso deste filme com a Lourdes Castro, houve momentos em que essas escolhas foram bastante discutidas entre nós as duas.

Por que decidiu fazer este filme sobre Lourdes de Castro? O que a motivou no trabalho da artista ou no seu percurso?

Sempre fui uma admiradora do trabalho da Lourdes Castro, há uma dimensão plástica muito forte, mas também uma grande inteligência e sentido de humor. Por outro lado sempre me fascinou a atitude por trás do trabalho, o caminho de depuração que Lourdes foi fazendo, até chegar ao Teatro das Sombras e ao jardim. E foi este percurso afinal que me motivou a fazer o filme, queria perceber e revelar este momento da vida da Lourdes em que para ela deixou de fazer sentido "criar objectos para por na parede". Fui percebendo que a chave desta revelação passava por um retrato do quotidiano de Lourdes hoje na sua casa e no seu jardim. Por outro lado já nos meus filmes anteriores havia esta preocupação de trabalhar sempre a partir do tempo presente, do quo-tidiano, e nesse sentido o meu caminho e o da Lourdes cruzaram-se de certa maneira.

O que essencialmente procurou captar e sublinhar com o seu filme?

Procurei trabalhar esta ideia de que é possível falar sobre uma vida, um percurso, sempre a partir de um microcosmo. Através do quotidiano da Lourdes percebemos outras questões que transcendem a sua arte mas que a marcam obviamente, como por exemplo a forma como estamos cada vez mais rodeados de betão e ainda tão pouco acordados para a defesa da natureza, para a nossa defesa. O filme tem também uma dimensão ecologista, se calhar, mas também uma dimensão filosófica. "O que é a vida? Qual o nosso papel enquanto aqui estamos?

Foi difícil trabalhar com Lourdes de castro, dada a reserva que a caracteriza? Há alguma história que possa contar?

Os primeiros contactos com a Lourdes aconteceram há mais de dez anos, o filme é o resultado também dessa aproximação, dessa confiança. No inicio há sempre mais filtros e barreiras, tanto ela como eu estávamos a descobrir quem era a outra. Depois é um pouco difícil verbalizar, é uma relação afectiva e como em todas há momentos de maior cumplicidade, uma comunicação mais tácita e momentos onde é preciso trocar ideias de uma forma mais explícita, mas no fundo esse caminho acontece naturalmente. Houve momentos em que senti que ainda não tinha uma ideia clara do que este filme ia ser, ele foi tomando forma na rodagem e depois mais tarde na montagem e lembro-me de perguntar à Lourdes se ela conseguia perceber o que eu estava a fazer a partir das cenas que ia filmando. Ela respondeu-me que neste momento parecia-lhe que eu tinha uma série de papelinhos uns em cima dos outros e que ainda não havia um fio condutor....mas que eu havia de o encontrar....e era verdade. Aprendi com a Lourdes a ter menos pressa....

Este filme foi marcante no seu próprio trabalho, de que maneira marcou o seu cinema?

Ainda é cedo para eu conseguir fazer essa reflexão, não sei de que forma este filme vai marcar o meu cinema. Vejo-o como um filme que estabelece uma grande continuidade com os filmes que fiz antes nomeadamente com o Desassossego e a Dama de Chandor, mas por outro lado julgo que se trata de um filme menos observacional de certa forma mais construído. Não há uma preocupação tão grande de informar ou dar um contexto, a motivação é sempre levar-nos a mergulhar num ambiente num universo. Não sei devolvo a resposta a esta pergunta aos espectadores...


LOURDES CASTRO


Nasceu em 1930 no Funchal. Desde 1983 vive na Ilha da Madeira depois de 25 anos em Paris.
Estada em Munique em 1957.
Em 1958 partida para Paris com René Bértholo. Recebe já aqui uma bolsa de estudo para pintura
da Fundação Calouste Gulbenkian tendo como orientador Arpad Szenes.
Começa com René Bértholo a revista KWY que continua, a partir do nº 6, com Christo, Costa Pinheiro,
Escada, Gonçalo Duarte, João Vieira, e Jan Voss.
Em 1972 e 1979 estadas em Berlim a convite da DAAD (Deutsche Akademischer Austauschdienst).

1961 "Assemblages-collages" de objectos pintados em alumínio
1962 Primeiras sombras em serigrafia. Sombras projectadas e contornos de pessoas sobre tela
1964 Sombras em plexiglas (pintado e recortado)
1968 Sombras deitadas e bordadas em lençóis
1973 Teatro de sombras / sombras em movimento
1988 Começo da "Montanha de Flores"

EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS (selecção)
1965 München, Galerie Buchholz
1966 Baden – Baden, Staattliche Kunsthalle
Paris, Galerie Edouard Loeb
1967 London, Indica Gallery
Amsterdam, Gallery 20
Malmö, Limhamns Konsförening
1968 Basel, Galerie Handschin
Hannover, Galerie Ernst
1969 Köln, Galerie Reckermann
Essen, Galerie Thelen
Milano, Studio Marconi
Frankfurt, Galerie Lüpke
1970 Amsterdam, Gallery 20
Lisboa, Galeria 111
1971 Ljubljana, Moderna Galerija
1972 Praga, Galerie National
1973 Bordeaux, Galerie du Fleuve
Berlin, Akademie der Künste (com René Bertholo)
1974 Antwerpen, Galerie Kontakt
1976 Ciudad Bolívar, Museo de Arte Moderno J. Soto
1978 Paris, Galerie Jean Briance
1979 Lisboa, Galeria 111
1980 Funchal, DRAC
1992 Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, "Além da Sombra", (exposição retrospectiva)
Lisboa, Ratton – Cerâmicas, Azulejos
Lisboa, Galeria Tapeçarias de Portalegre
1995 "Lourdes Castro – Montrouge au Portugal", 40 ème Salon de Montrouge, França
1998 "Peça" (com Francisco Tropa), XXIV Bienal de São Paulo e Museu do Chiado
1999 «Sombras projectadas», Porta 33, ARCO 99, Madrid
«Azul Sombra», Funchal, Casa-Museu Frederico de Freitas
2002 "Grande Herbário de Sombras", Centro de Arte Moderna, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
2003 "Sombras à volta de um centro", Museu de Serralves, Porto
2005 "À Sombra, Desenhos sobre papel", Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva, Lisboa
2009 "A Praia Formosa", PORTA33, Funchal

TEATRO DE SOMBRAS
1973/74 "Pic-nic à sombra, Contorno e Noite e Dia" - Anvers; Amsterdam (Melkweg); Aachen;
Hannover; Paris (Théâtre d'Orsay Renaud Barrault)
"Manuel Zimbro – A luz, L.C. – A sombra"
1975 Paris (Museu de Arte Moderna - "As cinco estações" - Festival de Outono)
1976 Ciudad Bolívar (Museu Soto); Caracas
1977 Lisboa (Fundação Calouste Gulbenkian); Porto; Funchal
1978 Trieste; Mantova (Teatro Bibiena)
1979 Berlin
1980 München (Staatsmuseum)
1981 "Linha de Horizonte" - Strasbourg; Venezia
1982 Frankfurt (Neue Alte Oper); Paris (Centre Georges Pompidou)
1985 Lisboa (C.A.M); Bienal de São Paulo

Catarina Mourão


Estudou Música (Cons. Nacional Lisboa), Direito (F.D.Lisboa) e Cinema (Mestrado na Univ. de Bris¬tol, Inglaterra). Fundadora da AporDOC (Associação Portuguesa de Documentário); Fundadora da produtora de cinema Laranja Azul, em 2000 com Catarina Alves Costa. Lecciona de 2004 a 2008 no curso de Som e Imagem e no curso de Artes Plásticas da ESAD, Escola Superior de Artes e Design de Caldas da Rainha, 2010 na Licenciatura em Cinema Documental da ESTA.


Filmografia


Fora de Água (1997)

A Dama de Chandor (1998)
Prémio Melhor obra Documental nos IX Encontros Int. de Cinema Documental da Malaposta; Prémio Melhor Argumento no 8o Festival Internacional de Belgrado; Prémio Aurélio Paz dos Reis prémio revelação do cinema português (1998); Festival de Cinema de Turim, 1999; Festival Internacional de Gottingen 2000; Festival du Nouveau Cinema et des Nouveaux Medias, Montréal 2000.

Desassossego (2004)
Prémio Melhor Produção e Melhor Fotografia no DocLisboa 2002, Les Écrans Documentaires, Outubro 2002. Estreia comercialmente em Lisboa e no Porto em Maio de 2004; Festival Cine- Port, Brasil, Junho 2005.

Malmequer, o diário de uma encomenda (2005)
Transmissão ARTE FRANCE Julho de 2003 e Setembro de 2003; RTP Canal 1 Dezembro de 2004; DocLisboa 2004.

À flor da pele (2006)
Prémio melhor filme da competição internacional do festival Fórum Doe de Belo Horizonte; NAFA film Festival Copenhagen;Tartu World Film Festival; Indie Lisboa 2006; Festival de Gottin¬gen 2006; Rencontres La Lucarne de Montréal; VI Festival of Visual Culture, Finlândia; - Transmissão na RTP2, e na YLE Tema (Finlândia) Outubro de 2007;Panorama, Lisboa S. Jorge, Fevereiro 2008; Studio des Ursulines, Paris, Abril 2008; Nuoro Sardinia Ethnographic Film Festival, September 2008.

A minha aldeia já não mora aqui (2006)
Prémio do JÚRI FICC (Federação Internacional dos Cineclubes) no Festival Caminhos do Cinema Português, Abril 2007; Festival de Curtas Metragens de Vila do Conde, 2006;. Beeld voor Beeld, Amsterdão, Holanda e Antuérpia, Bélgica, Junho 2007 ;ProvinceTown International Film Festival, Junho 2007; Prix Europa, Berlin, Sepetmber 2008; Planet on Focus - Toronto Canadá, Outubro 2008.

No caminho do meio (2009)
RTP2; Panorama do Cinema Português 2010.

Mãe e Filha (2009)
Doe Lisboa 2009, competição.

Pelas Sombras (2010)
Estreia na Fundação Serralves; Competição Nacional Indie Lisboa 2010 e Secção: Cinema Emergente.

JOÃO FERNANDES


João Fernandes conclui em 1985 a Licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Entre 1987 e 1995, é professor e investigador em Estudos Linguísticos no Instituto Politécnico do Porto. Entre 1992 e 1996, organizou como comissário free-lancer três edições das Jornadas de Arte Contemporânea do Porto. Organizou e comissariou igualmente as representações portuguesas na 1ª Bienal de Arte Joanesburgo [1995] e na 24ª Bienal de Arte de São Paulo. Desempenhou desde 1996 até Janeiro de 2003, as funções de Director Adjunto do Museu de Arte Contemporânea da Fundação de Serralves onde comissariou várias exposições. É desde Fevereiro de 2003 Director do Museu de Arte Contemporânea de Serralves.

João Fernandes tem vindo a participar, com alguma regularidade, na actividade da Porta 33 onde realizou diversas palestras sobre as exposições: Aproximando pessoas criativas de Francisco Tropa (2002); Os caminhos da água e do corpo sobre a terra de Alberto Carneiro (2003); de João Paulo Feliciano (com Miguel Wandschneider) (2004); de Pedro Cabrita Reis (2006); Drawing is a verb, Colecção Madeira Corporate Services, (com Adriano Pedrosa e Miguel von Hafe Pérez), (2007); A Praia Formosa de Lourdes Castro (com Isabel Carlos), (2009).