O programa da PORTA33 esteve sempre centrado na relação entre as obras e o espectador, entre as exposições e o público, tentando estimular e prolongar essa relação, através de diversos meios. Por isso, a PORTA33 convidou um conjunto de pessoas para responderem ao desafio que lançamos através destas três palavras que, articuladas entre si de várias maneiras, têm marcado a actividade da PORTA33: "Ver" (ou, em alternativa, "Ouvir"), "Fazer" e "Reflectir".
A partir destas três palavras erigidas em quase-conceitos foram então criados textos pelas pessoas que responderam ao convite da Porta33, artistas, críticos e ensaístas (no campo da Estética), que permitiram uma base reflexiva em torno do tema que serviu de reflexão para estes seminários. Tratou-se de discutir questões centrais da arte contemporânea e, desde logo, o que significa ser contemporâneo. Mas a reflexão sobre as questões e categorias estéticas que têm vindo a ser elaboradas para responder aos desafios da arte contemporânea cruzam-se com todo o sistema da arte contemporânea e, inclusivamente, os aspectos institucionais: a relação com o museu e os espaços de exposição, os modos de legitimação crítica e de circulação no espaço público, a relação com a política cultural e os seus desígnios e contingências. O programa dos debates foi delimitado por estas questões gerais.
Os textos criados assumem-se como um corpo crítico das práticas assumidas: no ver, no fazer e no reflectir, enquanto testemunhos que determinam a identidade da PORTA33 e a sua relação com a comunidade e o seu tempo.

O campo de reflexão que cada uma destas palavras abre é tão vasto que é preciso fornecer alguns critérios para tornar mais preciso o projecto. Antes de mais, é no quadro da interrogação sobre o que é o contemporâneo (e a que corresponde essa quase-categoria que é a chamada arte contemporânea) que as problemáticas para que cada uma dessas palavras remetem devem ser pensadas. Tentando dar-lhes um alcance conceptual, propomos que o "Ver" e o "Fazer" podem ser entendidos, na sua relação recíproca, como um par que se desdobra em duas dimensões importantes da Estética: a arte tal como é vivida pelo espectador e arte tal como é vivida pelo artista. Do lado do primeiro, temos a determinação da obra de arte a partir da aisthesis, da apreensão sensível; do lado do segundo, temos a obra – para onde se desloca a incidência - enquanto resultado de um particular operari artístico. Ora, a arte do nosso tempo colocou-se numa dimensão que integra em si mesma o sentido da actividade produtiva do "Fazer". Se tivermos em conta a distinção que os gregos estabeleciam entre poiesis ( poiein, produzir, trazer ao ser) e praxis (fazer, no sentido de agir), temos de verificar que a arte contemporânea levou até ao limite o apagamento da distinção entre poiesis e praxis. Ao mesmo tempo, ela prossegue, nas suas experiências (e a noção de experiência é aqui fundamental), o trabalho da reflexão, tão importante desde os românticos, que fizeram dela uma categoria. A palavra "Reflectir", que aqui propomos, deve constituir então um duplo desafio, isto é, abrir duas vias: a arte que, na sua vontade de conhecimento crítico, se desdobra e se abre ao seu interior (neste sentido, reflexão também significa especulação); a arte que, respondendo criticamente ao seu tempo, constitui uma experiência que reclama uma mediação reflexiva.

Pessoas convidadas (por ordem alfabética): João Barrento, Maria João Branco, Manuel Castro Caldas, Bruno Duarte, Nuno Faria, João Fernandes, José Gil, Ana Godinho, Paulo Varela Gomes, António Guerreiro, João Miguel Fernandes Jorge, Silvina Rodrigues Lopes, Tomás Maia, José Tolentino Mendonça, Maria Filomena Molder, Alberto Pimenta, João Queiroz, Manuel Rodrigues, Delfim Sardo, Gonçalo M. Tavares, André e. Teodósio, Paulo Pires do Vale e Miguel Wandschneider.