Cada vez mais vejo a produção artística (sobretudo aquela que existe fora
dos grandes circuitos comerciais) como um ato crítico de pensamento sobre as múltiplas
forças de poder que estruturam as nossas vidas (aqui entendamo-las num sentido muito
alargado, não só político, ou então no verdadeiro sentido político...).
A obra é (...) um sistema aberto, relacional e diagramático que prescreve hipóteses,
leituras cruzadas sobre diferentes aspetos da realidade física e objetal, fantasmagorias
da história universal e da história natural, descodificações suspensas e observações
nas margens da página. Serão fragmentos “em construção”, “estruturas” frágeis,
instáveis, desenhadas e sustentadas por intervalos de pensamento.
Vitor Magalhães
Estruturas provisórias (indícios, anotações e materiais)
trabalha sobre as ruínas da história e sobre a reconstituição que daí advém no
processo de reconstrução idiossincrática das micro-histórias que são convocadas
nesse
processo. Vítor Magalhães confronta-se com a sua vivência do espaço que agora ocupa
com a instalação proposta – uma das salas do antigo Colégio Externato Lisbonense, que
frequentou.
Aqui vai instituir um corpo de trabalho que apela à dúvida, à especulação e à
transitoriedade do conhecimento enquanto devir interrogante da realidade. Parafraseando
os
clássicos da arte conceptual, utiliza esquemas, diagramas
e desenhos em conjugação com fotografias, num dispositivo que alude igualmente às
técnicas convencionadas da pedagogia.
No entanto, aqui a especulação não é científica, nem puramente estética. É
especulação derivativa, geradora de apreensão (exatamente porque distante da ciência
e
obliquamente tocando a arte). Talvez esta característica do trabalho tenha exatamente a
ver com a experiência pedagógica do autor: nela o que transparece com maior acuidade –
o
artista ou o professor?
Apologética da disseminação interdisciplinar, a conceção de Vítor Magalhães é a
de
que a arte tem se ser apreendida num quadro mais geral de uma sensibilidade e um
pensamento porosos.
Miguel Von Hafe Pérez
I increasingly see artistic production (especially the one outside the major
commercial circuits) as a critical act of thinking about the multiple forces of power that
structure our lives (here we understand them in a very broad sense, not only political, or
then in the true sense of politics...).
The work is (...) an open, relational and diagrammatic system that prescribes hypotheses,
cross-readings on different aspects of physical and objectual reality, phantasmagorias of
universal and natural history, suspended observations on the page margins. They will be
fragments “under construction”, fragile, unstable “structures”, designed and supported by
intervals of thought.
Vitor Magalhães
Estruturas provisórias (indícios, anotações e materiais)
is a work that deals with the ruins of history, with the recon- struction that ensues the
process of idiosyncratic restoration of the micro-stories that are summoned by the artist’s
prac- tice. Vítor Magalhães confronts the experiences he has had in the space where he now
presents his work, one of the rooms of the former Colégio Externato Lisbonense, which he
attended.
This is a work that appeals to doubt and speculation, affirming the transience of knowledge
and a condition of questioning of reality. Paraphrasing the classics of conceptual art, he
uses diagrams, sketches and drawings in conjunction with photographs, a device that also
alludes to the conventional techniques of education. However, in this case speculation
is neither scientific nor purely aesthetic. It is a derivative speculation that generates
apprehension (because it is distant from science and obliquely touches art). Perhaps this
characteristic of the work is related to the author’s educational experience: what is
most evident here, the artist or the teacher?
A proponent of interdisciplinary dissemination, Vítor Magalhães believes that art has to
be consumed in a context of porous sensibility and thought.
Miguel Von Hafe Pérez
