RUI GOES FERREIRA. IMAGEM DE UMA OBRA INTERROMPIDA
Curadoria de Madalena Vidigal
com fotografia de Duarte Belo
PORTA33 — 27.01.2018 — 14.04.2018

Rui Goes Ferreira (1926-1978)

Nasceu no Funchal a 8 de Novembro de 1926. Em 1946 ingressou na Escola de Belas-Artes do Porto e completou a parte escolar do curso de arquitectura em 1953. Iniciou-se em trabalho de atelier com o Arquitecto Januário Godinho, numa primeira fase como estagiário no período entre 1953 e 1957. Regressou à Madeira em 1955 a convite da Academia de Música e Belas-Artes da Madeira (AMBAM) para integrar o corpo docente, como professor de Desenho Arquitectónico nos cursos de Escultura e Pintura. A partir de 1956 exerceu carreira em regime de profissão liberal, no Funchal. Em 1961 prestou a sua prova final de Curso, obtendo a classificação de 19 valores. Tem uma actividade profissional intensa nas ilhas da Madeira e Porto Santo. A par de Raúl Chorão Ramalho é percursor da arquitectura moderna no arquipélago. Cria no Funchal um “atelier-escola” que procurou a colaboração de arquitectos não locais agitando a massa crítica e diversidade da prática da arquitectura na região. Entre eles, Bartolomeu Costa Cabral, Manuel Vicente, Marcelo Costa, José António Paradela, José Zúquete e António Marques Miguel.

Entre variadíssimos programas, locais e circunstâncias, assim como outras actividades e interesses, identificam-se diversos campos da Arquitectura, Urbanismo, Arte e Sociedade em que actuou. Destacam-se: a docência na AMBAM; o trabalho desenvolvido para as Habitações Económicas da Federação das Caixas de Previdência, como Arquitecto Residente, no Funchal, na realização de vários projectos de unidades e de conjuntos, nomeadamente de habitação individual e colectiva; o acompanhamento da elaboração do Plano Director da Cidade do Funchal, coordenado pelo arquitecto José Rafael Botelho, que passou por discussão pública nos Colóquios de Urbanismo, em Janeiro de 1969, onde foram convidados os arquitectos Robert Auzelle e Nuno Teotónio Pereira; e o projecto cultural da Galeria de Artes Decorativas TEMPO, no Funchal, desenvolvido com o escultor Amândio Sousa. É ainda recordado na região pela participação na “Volta à Ilha da Madeira” conquistando, em 1964, o lugar de melhor madeirense na aclamada corrida de automobilismo. E como membro jogador assíduo do Campo de Golf do Santo da Serra tendo participado em vários torneios regionais e nacionais.

Esta é a história de um arquitecto. Do arquitecto Rui Goes Ferreira cujo trabalho e obra assumem uma extrema relevância na caracterização da arquitectura que se desenvolveu na Madeira nos anos 60 e 70. Hoje mantém-se quase no esquecimento. Enfrenta-se o desafio de descortinar e dissecar a prática e obra deste arquitecto, com a vontade de conhecer, aprender, pensar e divulgar a sua forma de fazer arquitectura. Entre variadíssimos programas, locais e circunstâncias, assim como outras actividades e interesses, identificam-se diversos campos da Arquitectura, Urbanismo, Arte e Sociedade em que actuou. Formado na Escola do Porto, levou para a Madeira a reflexão do papel social do arquitecto. Um trabalho feito pelo homem para o homem que usa a paisagem e o lugar como dado cultural a integrar na estrutura final, humanizando a arquitectura e desenhando-a à escala natural. O encontro com a obra de Rui Goes Ferreira passou por um trabalho de reconhecimento da realidade construída, da memória e da matéria documental, que antecederam uma reflexão mais profunda sobre o seu trabalho. A reflexão foi conduzida por um "jogo de palavras" (as palavras de Rui Goes Ferreira) que apenas se encontram nas memórias descritivas dos seus projectos. Pretende-se então construir uma narrativa sobre a prática e obra deste arquitecto através das memórias e vestígios ainda existentes. Compor uma narrativa que lhes concede de novo voz e animação de modo a dá-los a conhecer. Apresenta-se em dois instantes que exploram dois modos distintos e complementares de narrar a sua história, uma narrativa visual acompanha uma narrativa escrita, mas onde o contrário também se considera válido.

Dissertação de Madalena Vidigal “Rui Goes Ferreira. Ensaios sobre uma obra interrompida. Madeira 1956-1978”, Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, no link:
https://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/87363

Em Junho de 2016, o fotografo Duarte Belo, foi às Ilhas da Madeira e Porto Santo fazer um levantamento fotográfico da obra de Rui Goes Ferreira. Um registo crucial num momento em que várias obras correm risco de desaparecimento. Mais do que um trabalho revelou-se um envolvimento na intensidade e profundidade de um personagem que encontrou ainda, e de certa maneira, presente.

Duarte Belo, no link:
http://sobreruigoesferreira.blogspot.pt/

Punkto: Recensão crítica de André Tavares da Exposição "Rui Goes Ferreira: imagem de uma obra interrompida" patente até 31 de Março na PORTA33, Funchal, com curadoria de Madalena Vidigal e fotografias de Duarte Belo.

Notas da edição Revista Punkto, 19.02.2018
arquitecturas \ espaços, no link:

http://www.revistapunkto.com/2018/02/rui-goes-ferreira-imagem-de-uma-obra.html