António Olaio

iniciou o seu percurso artístico, no começo dos anos 80, ainda antes de entrar na Escola de Belas-Artes do Porto, sob o signo de uma dupla actividade: a pintura e a performance. Ao longo dessa década, paralelamente ao seu trabalho como pintor, apresentado com regularidade no circuito galerístico daquela cidade, desenvolveu uma prática militante de performance num outro circuito, relativamente marginal, de eventos dedicados a essa forma de expressão artística, tanto em Portugal como no estrangeiro. Em algumas das suas performances, Olaio dançava ao som da música, e em alguns casos também cantava ou fazia o seu próprio playback, representando-se como personagem de um show business indigente nos meios e paródico nos resultados, desviando e subvertendo as tácticas do entertainement para interrogar o papel e a identidade do artista.

Essas performances despertaram nele a vontade de desenvolver actividade no campo da música pop e propiciaram a sua ligação em 1987, como letrista e vocalista, ao grupo Repórter Estrábico, com o qual chegou a gravar um disco (Uno dos, 1991). Depois de se desvincular do grupo, deu seguimento à actividade musical com um conjunto de canções em que apropriava fundos instrumentais de discos anacrónicos, e a partir das quais realizou os seus primeiros vídeos, igualmente relacionados com um conjunto de pinturas (Post-Nuclear Country, 1993). A filiação desses vídeos nas suas performances anteriores era evidenciada pela presença ostensiva do artista encarnando diferentes personagens a dançar e a cantar. Desde então, continuou a compor e a dar voz a canções no âmbito de um projecto musical desenvolvido em parceria com João Taborda, que se materializou na edição de dois discos (Loud Cloud, 1996, e Sit on My Soul, 1999), servindo-se de muitas dessas canções (algumas delas versões, com novas melodias e arranjos, das anteriores) como matéria-prima para os seus vídeos.

António Olaio encontrou no vídeo um meio extremamente operativo de síntese e interligação entre os diferentes registos da sua actividade artística anterior (a pintura, a performance e a música). Os seus vídeos estabelecem uma relação umbilical com a música através dos contornos e das aparências do videoclip, ao mesmo tempo que despistam e contrariam a codificação desse formato, e se aproximam da sua pintura, ao nível da composição e da montagem visuais, assim como das ideias e referências expressas. Com efeito, a exploração do vídeo veio potenciar a disseminação e circulação de ideias, imagens (visuais e verbais) e referências no interior do seu trabalho. Por outro lado, proporcionou-lhe um terreno fértil para expandir os jogos semânticos que a sua imaginação pródiga e delirante vai construindo a partir de associações insólitas e delirantes entre elementos da realidade familiares, e mesmo banais, imediatamente reconhecíveis.

Seja qual for o meio de expressão utilizado, o que está em jogo é um entendimento da arte como espaço de ilusão e artifício, a invenção de mundos paralelos que pulverizam as representações do senso comum e abrem perspectivas desconcertantes sobre as evidências da realidade. Como questão subjacente está sempre a interrogação e a perplexidade, a que muitas vezes não é alheia uma certa melancolia, em torno do indivíduo e da sua relação com a realidade social e cultural que o determina. Uma atitude pautada pelo humor, o cepticismo e a irrisão, mas também a subversão dos critérios de perfeição técnica, das regras de bom gosto, dos hábitos de percepção adquiridos, em suma da compostura de uma arte que se pretende elevada, são as armas usadas por António Olaio para constantemente surpreender e cativar o espectador.

1963, Sá da Bandeira, Angola

FORMAÇÃO
Licenciatura em Artes Plásticas (Pintura), Escola Superior de Belas Artes do Porto, 1987

EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS (Selecção)

2004
SlowMotion, Porta 33, Funchal, Portugal
40 Years in a Plane, conTEMPorary, Nova Iorque, Estados Unidos da América

2003
You Are What You Eat, Centro Cultural Andratx, Palma de Maiorca, Espanha

2002
What Makes a Home a House?, Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, Portugal
Telepathic Agriculture, Galerie Schuster, Frankfurt, e Galerie Schuster & Sheuermann, Berlim, Alemanha

2001
Foggy Days in Old Manhattan, Galeria Filomena Soares, Lisboa, Portugal
Urban Lab: Bienal da Maia, Forum da Maia, Portugal
SlowMotion, ESTGAD, Caldas da Rainha, Portugal

2000
My Left Hand is Changing, Galeria Pedro Oliveira, Porto, Portugal
1999
Sunset TVs, Espaço Poste It, Porto, e Galeria O.M., Coimbra, Portugal

1998
What Do You Want for Christmas?, Galeria Zé dos Bois, Lisboa, Portugal
My Home is a Logo, Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, Portugal

1997
And This is the Drawer Where He Kept his Gun, Galeria O.M., Coimbra, Portugal
Bambi is in Jail, Galeria Pedro Oliveira, Porto, Portugal

1994
Post-Nuclear Country, Galeria Monumental, Lisboa, Portugal

1993
Waiting for Christmas, Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, Portugal

1991
Ma main, c’est un readymade, Galeria Pedro Oliveira, Porto, Portugal

1989
Blaupunkt Blues, Galeria Roma e Pavia, Porto, Portugal

1998
Sofás amarelos, vermelhos não são, Galeria do Jornal de Notícias, Porto, Portugal

1987
Quem matou a porteira?, Galeria Roma e Pavia, Porto, Portugal

1985
Na Atlântida, Galeria Roma e Pavia, Porto, Portugal

1984
Os espelhos não reflectem a imagem de Drácula, Galeria EG, Porto, Portugal
Graças à luz eléctrica, Cooperativa Árvore, Porto, Portugal

1983
A visita de Fernão Mendes Pinto a Marcel Duchamp, Galeria Roma e Pavia, Porto, Portugal

Exposições Colectivas (Selecção)

2003
Coimbra C, Círculo de Artes plásticas de Coimbra, Portugal
Centro On Caixa Galicia, Sala Imagin@rte, La Coruña, Espanha
In Out, Praga, Checoslováquia, e Budapest, Hungria
Arte dos artistas, Culturgest, Lisboa
Art Brussels 2003 (stand Galeria Filomena Soares), Bruxelas, Bélgica
ARCO 2003 (stand Galeria Filomena Soares), Madrid, Espanha

2002
Contemporary Art from Portugal, Banco Central Europeu, Frankfurt, Alemanha
Figuración, Asamblea de Extremadura, Patio Noble, Mérida, e Institución cultural "El Brocense", Cáceres, Espanha
Arte en Casa, Galería María Llanos, Cáceres, Espanha
Art Forum Berlin (stand Galeria Filomena Soares), Berlim, Alemanha
ARCO 2002 (stand Galeria Filomena Soares), Madrid, Espanha

2001
Art Forum Berlin (stand Galeria Filomena Soares), Berlim, Alemanha
Art Brussels (stand Galeria Filomena Soares), Bruxelas, Bélgica
ARCO 2001 (stand Galeria Filomena Soares), Madrid, Espanha

2000
Art Forum Berlin (stand Galeria Filomena Soares), Berlim, Alemanha
Bienal de Pontevedra, Espanha
Hi8#2: Short Video Festival, London Biennial, Londres, Inglaterra
ARCO 2000 (stand Galeria Pedro Oliveira), Madrid, Espanha

1999
ARCO 99 (stand galeria Pedro Oliveira), Madrid, Espanha
Coimbra d.C. (exposição com António Melo), Galeria O.M., Coimbra, Portugal
Screen Test, W.C. container, Artes em Partes, Porto, Portugal

1998
Corpos em trânsito, Galeria Pedro Oliveira, Porto, Portugal
Bienal AIP, Europarque, Santa Maria da Feira, Portugal
Fundação Radar, Cooperativa Árvore, Porto, Portugal
ARCO 98 (stand Galeria Pedro Oliveira e stand Museu Extremeño Ibero-Americano de Arte Contemporânea), Madrid, Espanha

1997 Anatomias Contemporâneas, Fundição de Oeiras, Oeiras, Portugal
Forum de Arte Contemporânea (stand Galeria Pedro Oliveira), Corunha, Espanha
Bienal de Arte Jovem, Maia, Portugal
Em torno de Camilo, Fundação Cupertino de Miranda, Famalicão, Portugal

1996
Zapping Ecstasy, Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, Portugal

1995
Arte Jovem, Maia, Portugal

1993
Obras de André Magalhães e António Olaio para as Lojas automáticas do BPA, Espaço BPA, Porto, Portugal
Imagens para os Anos 90, Fundação de Serralves, Porto, e Culturgest, Lisboa, Portugal
A Liberdade está uma Senhora, Alfândega do Porto, e Ministério das Finanças, Lisboa, Portugal

1991
Inexpressionismos (exposição com André Magalhães), Instituto Alemão, Porto, Portugal

1989
Encontro Europeu de Arte (stand Galeria Roma e Pavia), Guimarães, Portugal
ARCO 89 (stand Galeria Roma e Pavia), Madrid, Espanha

1988
Forum de Arte Contemporânea (stand Galeria Roma e Pavia), Lisboa, Portugal

1986
Porto: Tendências Actuais (exposição itinerante organizada pela Secretaria de Estado da Cultura), Cooperativa Árvore, Porto, Portugal
Pintor Personagem, Galeria Roma e Pavia, Porto, Portugal
Um Certo Perfume Surrealista, Museu Soares dos Reis, Porto, Portugal
Murais Roma e Pavia, Galeria Roma e Pavia, Porto, Portugal

1985
ARCO 85 (stand Espaço Lusitano), Madrid, Espanha
II Bienal de Desenho da Cooperativa Árvore, Porto, Portugal

1984
Miragens, Paisagens, Galeria Roma e Pavia, Porto, Portugal
Tendências Actuais, Galeria Roma e Pavia, Porto, Portugal
A roupa do artista, Espaço Lusitano, Porto, Portugal
I Bienal de Desenho de Seul, Coreia do Sul
Novos Novos, Sociedade Nacional de Belas-Artes, Lisboa, Portugal
12 Pintores dos Anos 80, Sociedade Nacional de Belas-Artes, Lisboa, Portugal

Colecções (Selecção)

Arte Quinze Vinte e Um
Banco Português do Atlântico
Câmara Municipal de Coimbra
Círculo de Artes Plásticas de Coimbra
Companhia Portuguesa do Cobre
Fundação de Serralves
Museu Extremeño Ibero-Americano de Arte Contemporânea, Badajoz, Espanha
Secretaria de Estado da Cultura (Delegação de Coimbra)

Performance (Selecção)

2003
Com Paulo Mendes e concerto/performance com João Taborda, Festival Brrr, Teatro São João e Maus Hábitos, Porto, Portugal
2002
On Off, com Paulo Mendes, Danças na cidade, Ministério das Finanças, Lisboa, Portugal

2001 Springland, Festival Dias e Ventos, Teatro do Campo Alegre, Porto, Portugal

2000
Aniversário do Museu de Serralves, Porto, Portugal
Inauguração da Bienal de Pontevedra, Espanha

1994
Encontro da Cultura Contemporânea e das Causas, Cascais, Portugal

1988
II Encontro Nacional de Performance, Amadora, Portugal

1987
O ângulo recto ferve a 90°, Festival internacional de Performance, Porto, Portugal
Intervention IV, Cafè de La Danse, Paris, França
Art is Action, Galeria Zorro, Kassel, Alemanha

1986
Galeria dos Milagres (inauguração da galeria), Coimbra, Portugal
Intervention III, Verrières, Paris, França

1985
Performarte: I Encontro Nacional de Performance, Torres Vedras, Portugal
Salão da Associação Internacional de Críticos de Arte, Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa, Portugal

1984
Festival de Performance Portuguesa, Espaço Makkom, Amsterdão, Holanda
Art et Révolution, Centro Georges Pompidou, Paris, França
Alternativa IV, Cascais, Portugal
12 Pintores dos Anos 80, Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa, Portugal

1983
Alternativa III, Almada, Portugal
Espaço Lusitano (inauguração da galeria), Porto, Portugal
Espectáculo de Variedades Artísticas para uma Escola de Belas Artes, Escola Superior de Belas Artes, Porto, Portugal
O Porto (inauguração da exposição), Cooperativa Árvore, Porto, Portugal

1982
Três noites de Performance, Liceu José Falcão, Coimbra, Portugal
Alternativa II, Almada, Portugal

Discografia

Repórter Estrábico
Uno dos, 1991

António Olaio & João Taborda
Loud Cloud (CD), Lux Records, 1996
Sit on My Soul (CD), Nortesul, 2000
OUTRAS ACTIVIDADES

2004
Professor no Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra
Coordenador, com o pintor Pedro Pousada e o arquitecto Jorge Figueira, da revista Homeless Mona Lisa
(http://homelessmonalisa.sarq.uc.pt), Centro de Estudos do Departamento de Arquitectura da FCTUC

2000
Dissertação de doutoramento, O campo da arte segundo Marcel Duchamp, no Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra

1987
Organizou, com Egídio Álvaro, Pedro Oliveira e Fátima Carvalho, O ângulo recto ferve a 90º: I Festival Internacional de Performance, Porto, Portugal

1986 - 1987
Director da Galeria dos Milagres, Coimbra, Portugal

1983 - 1986
Membro e fundador do Grupo Missionário, com António Melo, Nuno Santacruz, Pedro Tudela, Lúcia Viana e Alzira Relvas

PRÉMIOS

1998
Prémio de escultura Repsol com os arquitectos Desirée Pedro e Carlos Antunes com a escultura para a estação de serviço de Penafiel
1996
Menção especial do júri do Prémio Acarte/Madalena Azeredo Perdigão pelos espectáculos de música/performance Loud Cloud, com João Taborda