A ILHA DO PORTO SANTO
A ilha do Porto Santo fica situada a NE da Ilha da Madeira. Desenvolve-se principalmente na direcção
de NE para SW, sendo de 11 quilómetros o seu maior comprimento e de 6 quilómetros a maior largura. A
linha de costa tem o comprimento de 38 quilómetros, sendo de 41 quilómetros quadrados a área por ela
delimitada.
A sua população era de 2.500 habitantes em 1930, a que corresponde uma densidade de 60 habitantes
por quilómetro quadrado. Actualmente, segundo os dados provisórios disponíveis dos Censos 2011, a
população residente é de 5.483 habitantes. A população apresenta 818 habitantes até aos 14 anos; 665
habitantes entre os 15 e os 24 anos; 3.269 habitantes entre os 25 e os 64 anos; 731 habitantes com
mais de 65 anos. Conta com a maior percentagem de população estrangeira, com 4,6%, enquanto no
Funchal é de 2,5%, e apresenta uma das taxas de atracção mais elevada de todo o arquipélago (9,6%).
Da observação das estatísticas mais recentes , contrariamente ao registado em 2011, é de salientar
dois aspectos: o decréscimo e o envelhecimento da população residente. Em 2018, observou-se ter
havido um decréscimo da população residente para 5.175 habitantes. E se em 2011 a população
residente contava com um dos índices rejuvenescimento mais elevado do arquipélago, em 2018,
registou-se a situação inversa, com um índice de envelhecimento pronunciado. Reflectindo-se no
crescimento de famílias a viver em estabelecimentos de apoio social, essencialmente população idosa,
e no encerramento de dois estabelecimentos do ensino pré-escolar e uma escola do 1º ciclo do ensino
básico.
Durante várias décadas, a Antiga Escola Primária da Vila do Porto Santo, também conhecida pela
população como Escola da Vila, serviu o seu propósito de estabelecimento de ensino até à saída da
comunidade escolar. A escola faz parte da memória e identidade de todas as gerações de habitantes da
Vila. Após o abandono da escola, a Câmara Municipal do Porto Santo estabeleceu um protocolo com a
Porta33 com o intuito desta transformar o espaço da Antiga Escola num local de residências e
actividades artísticas, em comunhão e associação com a comunidade local.
A Escola da Vila foi projectada no final dos anos 50, pelo Arquitecto Raúl Chorão Ramalho, e um
exemplo notável da modernidade na arquitectura portuguesa. Tem a particularidade de ter sido
construída num contexto de grande insularidade e, por se encontrar longe dos círculos de maior
notoriedade das artes e da arquitectura, passou despercebida à austeridade do Ministério das Obras
Públicas. Esta escola, pela sua tipologia e linguagem contrariou os modelos-tipo do Plano de Escolas
do Centenário, desafiando os campos da pedagogia e sociologia na época.
Cada sala de aula estende-se amplamente a um pátio exterior, interligados por palas exteriores onde
se fazem as circulações, tirando partido do excelente clima local e potenciando actividades de
domínios tão variados. Estas valências singulares do espaço parecem convir bastante à sua nova
apropriação. A mesma inteligência na observação e valorização das potencialidades do território
empregue na arquitectura da escola inspira o novo projecto a implementar. Será a partir da
observação e análise cuidadas sobre as particularidades da ilha do Porto Santo e da leitura e escuta
das características da sua comunidade que nasce este projecto.
Segundo a Análise SWOT (Strenghts, Weaknessess, Opportunities, Threats) – ferramenta que preconiza a
definição dos pontos fortes e fracos do território e aponta oportunidades e ameaças – esta ilha
apresenta uma forte vulnerabilidade às alterações climáticas por se tratar de um território insular
com sistemas naturais sensíveis e com uma economia frágil. Tendo entre os pontos fracos:
acessibilidade e mobilidade limitada e desadequada; desemprego, fraco empreendorismo e sazonalidade
da economia; desertificação dos solos, escasso aproveitamento das águas pluviais e abandono da
actividade agrícola; ausência de planos estratégicos e de ordenamento; desinformação e desinteresse
da comunidade pelos valores culturais, patrimoniais e paisagísticos locais.
Por outro lado, o Porto Santo oferece: turismo de natureza e bem-estar; condições naturais
favoráveis, durante todo o ano; clima ameno com baixa amplitude térmica; segurança e tranquilidade;
boa infra-estruturação dos serviços; condições favoráveis e técnicas agrícolas sustentáveis para o
desenvolvimento da agricultura e pecuária biológica; o Projecto Porto Santo Sustentável – Smart
Fossil Free Island e o Programa Eco-Escolas; orgulho da comunidade sénior nos valores identitários
da ilha; pequena dimensão que permite aplicar com maior facilidade medidas de gestão e conservação
dos recursos naturais.O território do Porto Santo é tipicamente percepcionado como um pólo de
atracção turística, em virtude do seu extenso areal, das estruturas hoteleiras e de lazer e da sua
beleza natural.
Através de um entendimento da arte e da cultura enquanto formação da atenção, que permite expandir a
experiência humana e alargar as possibilidades em que nos movemos, o projecto da Porta33 para a
Escola da Vila visa contribuir para o desenvolvimento sustentável deste território enquanto fonte de
inspiração e de investigação de novas formas de produção artística. Um espaço de intercâmbio
internacional de propostas estratégicas no âmbito intelectual e ambiental, tendo como foco principal
estimular a participação activa da comunidade local. Um laboratório onde se estimula a contemplação,
o lúdico, a descoberta, a responsabilidade e a liberdade, no qual se promove a formação dos afectos,
a relação com o corpo, o reconhecimento da autonomia, a capacidade de lidar com desafios, o prazer
em aprender.
Pertencemos a um ‘’todo’’ geográfico-histórico, feito de memória, de presente e de posteridade.
Assim, a promoção de uma educação que valorize o património e as artes fortalece o sentimento de
pertença dos cidadãos, contribuindo para a reconstrução de comunidades historicamente enraizadas,
aptas para o sucesso num futuro incerto.
Numa sociedade fragilizada pelo exponencial crescimento tecnológico e pela globalização, em que a
inteligência artificial parece tomar um papel resolutivo, é fundamental fomentar as competências
emocionais, sociais, criativas e críticas que as artes proporcionam, criando cidadãos capazes de se
adaptar a um futuro desconhecido e de participar de forma activa e consciente no mundo.
Compreendendo o conhecimento intelectual enquanto parte de um ecossistema intrincado e abrangente,
este projecto, tem como objectivo contribuir para salvaguardar o acesso dos cidadãos à fruição
artística e produção cultural: contrariar as desigualdades e emancipar-se das separações entre o
popular e o erudito, o tradicional e o contemporâneo; assegurar a centralidade das artes e do
património na formação ao longo da vida; estimular acções colaborativas entre agentes artísticos, a
comunidade educativa e outros intervenientes, de forma a desenhar novas formas de ensino que
promovam um currículo holístico e integrador, de estreita relação entre a Escola e o meio
envolvente.