ANTÓNIO DANTAS
STAND FO61 | GÉNESIS 2:21 | TRUST ART | IMPRESSÕES | COSMO-GRAFIAS
PORTA33 — 1993—2000

STAND FO61

ARCO MADRID, 2000


GÉNESIS 2:21

PORTA33, 1996


TRUST ART

PORTA33, 1993


IMPRESSÕES

PORTA33, 1996

TRUST ART | GÉNESIS 2:21


Os dois trabalhos que ANTÓNIO DANTAS denominou respectivamente de “Trust Art” e “Genesis 2:21” comportam-se segundo a profundidade dolorosa de um estigma primordial que mergulha as suas raízes em buscas alucinantes. São instalações recriadas na violência do que resta do “eu”. Obras efémeras que rompem da evidência imperecível do espaço.
Sabemos quando pelos anos 70 e 80, a partir da avassaladora pujança das artes plásticas, um outro “environment” espacial usou novas adições e procedimentos e praticou em espaços alternativos. Armazéns ou fábricas, a busca pós-modernista de uma outra diferença, afastando-se dos canónicos padrões de criatividade.
ANTÓNIO DANTAS serve-se também do princípio condicionado da instalação para expressar os seus paradigmas e os seus veementes fantasmas cuja eficácia nasce duma simples mas convicta margem de evidência. E, sublinhe-se que a instalação brota, em sentido genérico, duma ideia ou surge como proposta sem rígida definição. Pode ser apenas um grito, a profundidade dum pensamento, um gesto aparentemente incompleto ou sem imposta definição: pode ser isso ou mais alguma coisa. Sobretudo existe uma procura que rompe as amarras de pendor formalista, ou seja, que se afasta de qualquer hierárquica situação tradicional. Pode ser mesmo o braço antes do abraço ou a prece antes da religião. Sem dúvida que a instalação não aparece por obra e graça do espírito santo. Nada disso. Ela apenas mergulha a sua condicionalidade onde mais lhe convém ou seja noutra imparável convicção.
Claro que também podemos referir a existência de convictos antecedentes como fontes deinspiração. Sem dúvida. E temos aí o futurismo ou o dadaísmo, o construtivismo ou ainda a “minimal art” entre outras manifestações artísticas como a “pop art” conforme lembrança conceptual. Pendendo mais para uma determinada vertente do que para outra, a instalação instala-se sem receio e indiscrição. E assistimos sem restrições à combinação de meios e uso de elementos díspares como, por exemplo, objectos fotográficos, projecções fílmicas; construções escultóricos ou cenográficas, onde a audio e o video fazem a sua aparição desassombrada como no caso da proposta de ANTÓNIO DANTAS. Assim, numa certa interacção que não exclui um determinado monumentalismo surge, por vezes, uma atitude espectacular que saboreia o próprio espectáculo como um todo imanente. Por outro lado, o tecido cultural das instalações internacionaliza-se, isto é, afasta-se da situação geopassadiça das culturas nacionais para ir muito mais longe.
Realmente o homem busca outra face, outro rosto, que julga mais exacto na subjacente emanação. Se acredita é para ir mais distante até ao fundo de toda a sua crença, mesmo que esta não ultrapasse o carácter de uma negação. ANTÓNIO DANTAS mostra o que faz e basta-lhe. Fica por aí. Até parece que o seu processo de comunicação rejeita toda a transcendência. De facto, assim o homem acaba mesmo onde parece querer começar. Apetece sublinhar que o conceito de arte transformou-se sempre através dos tempos. Porém, o prazer de usufruir um diverso dado estético é datável, tal como se passa com as belas instalações de ANTÓNIO DANTAS. Daqui a sua perenidade. A sua valência. A sua ductilidade. Muitas vezes apenas permanece a descoberta numa promissora mutabilidade de valores artísticos ou culturais. Ou, um tanto mais do que isso, uma técnica, um estilo ou tendência. Assiste-se de um modo geral, nas instalações, ao procedimento não canónico da forma num dado espaço, a qual, em lugar de elementos tradicionais, associa-se à inovação lançando mão de diversos meios criativos de representatividade. De facto, na “Trust Art” como em “Genesis 2:2.1”, ANTÓNIO DANTAS experimenta nova substância formal entendida como o objecto artístico do “corpóreo”.
No primeiro exemplo dá-se a consumação da face, ou seja (pergunto) do princípio do conhecimento? E, no segundo caso, onde tudo parece reduzir-se ao movimento do corpo e à instabilidade das roupas, cada imagem aponta para a violência do desespero?
Sobretudo em “Genesis 2:21” uma dada limpidez impõe-se sem fábulas nem hesitações. E, neste último caso, a temática é simples. Trata-se do próprio autor que se despe, que se afasta dos lugares comuns às suas roupagens obsessivas e permanece finalmente nu, despido de toda a retórica sem antes nem depois. António Dantas demonstra assim que começa e acaba em si mesmo. Nada mais interessa para satisfazer a sua dignidade humana. Em si mesmo reside o único privilégio que lhe resta — estar conscientemente vivo e respirar, como se o mundo conturbado em que vive já não servisse para qualquer reencarnação. E a dádiva do seu coração lá está persistente e palpitante de infinito como se a diástole e a sístole dos seus movimentos não servissem senão para deixar de existir quando quisesse conforme a eficácia dolorosa de coisa nenhuma.
O monitor vídeo em que o coração se encerra, veemente e constante, guarda ciosamente a vida que pulsa latejante numa imparável persistência de existir. E ouve-se, através de cada diástole e de cada sístole, o ruído sobejado do coração que, numa constância desesperada, pretende querer ser o próprio Ser. E ANTÓNIO DANTAS reafirma um espaço nu onde flutua determinada súmula balética dum esperado horror. Por sua vez, ANTÓNIO DANTAS entroniza-se na dor que expressa em cada gesto de despir-se. Trata-se de facto do calvário da própria dor servida pela anatomia do corpo e das roupagens. Então as imagens laser (electrografia) resultantes de sistemas interactivos, associados ao monitor vídeo oferecem uma representação cenográfica acabada.
E apetece perguntar: trata-se de um baile diabólico nascido na recente recusa de estar vivo para em seguida morrer? Ou pior ainda, será um bailado impenitente onde se morre bailando para se continuar vivo morrendo?

António Aragão
Ilha da Madeira, Março 1996.

COSMO-GRAFIAS

ASSÍRIO & ALVIM / PORTA33, 1998
ANTÓNIO DANTAS
Livraria Assírio & Alvim

A instalação destina-se especificamente ao espaço em que está inserida, e leva em conta a sua dupla funcionalidade de livraria e espaço de exposição. Numa área quadrangular, ANTÓNIO DANTAS colocou um conjunto de elevações paralelipipédicas em madeira que cobrem a totalidade do espaço. Na superfície superior de cada uma delas observam-se imagens de caracteres tipográficos semelhantes aos utilizados nas desusadas máquinas de dactilografia. A visão da mancha dos pequenos objectos no chão evoca obviamente a página de um livro, mas na sua intensificada tangibilidade, lembra também os seus já arcaicos processos de feitura. Esta presentificação dos meios, mas também dos ritmos com que se fizeram e imprimiram os textos que nos alimentaram, não cria apenas um halo sentimental parecido com o que experimentamos com as relíquias. Oferece-nos, igualmente, a percepção aguda, porque tornada física, de que escrever, mas também pensar, num mundo completamente digitalizado, como o será o do próximo século, serão actividades necessariamente transformadas.

Expresso 4 Julho 1998

ANTÓNIO DANTAS
Nasceu na Ilha da Madeira em 1954. Vive e trabalha no Funchal.

Exposiciones individuales
One-person Exhibitions


1996
Impressões, Galeria Porta 33, Funchal, Ilha da Madeira

1998
Cosmo-Grafias, Galeria Assírio & Alvim, Lisboa, (produção Porta 33)

2000
Stand F061, ARCO, Madrid, Galeria Porta 33

Exposiciones colectivas (selección)
Group Exhibitions (a selection)


1980
2ª Bienal de Vila Nova de Cerveira
Itinerâncias: Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa; Cooperativa Árvore, Porto; e Palácio D. Manuel, Évora
Art’ Ilha, Salão Nobre do Teatro Municipal do Funchal

1981
Filigrama, Mail Art Zine, com António Aragão e Eduardo de Freitas

1982
Cultura Alternativa, Galeria Cândido Mendes, Rio de Janeiro Visioni, Violazioni, Vivisezioni, Comuna de Bondeno
1983
Muestra Internacional de Poesia en Castilla-La-Mancha, Cuenca

1984
Libres d’ Artista, Galeria Metronom, Barcelona L’ Insestenza del Segno, Comuna de Milão

1985
Junco-Dada-Museum, Ein-Hod, Israel

1986
Images from South Africa, An International Art Show, São Francisco Murmúrios, Galeria Atelier 15, Lisboa
1ª Muestra de Libro Objeto, Galeria la Máquina Española, Sevilha
1ª Bienal Internacional de Poesia Visual Experimental y Alternativa en Mexico, Cidade do México

1987
1º Festival Internacional de Poesia Viva, Museu Municipal Dr. Santos Rocha, Figueira da Foz
Mostra de Video-Arte Portuguesa e Francesa, Instituto Franco español, Porto

A Arte do Video, Goethe Institut, Lisboa e Centro de Artes Plásticas de Coimbra Ciclo Poesia Viva, Casa de Serralves, Porto

1988
2º Encontro Nacional de Intervenção e Performance, Amadora
Poesia: Outras Escritas Novos Suportes, Convento de Jesus, Setúbal
Do Atlântico para a Costa Oeste, 8 Jovens Artistas Portugueses, Galeria A.T. A. (Artist’s Television Acess), São Francisco
Forum de Arte Contemporânea, Forum Picoas, Lisboa

1989
Concreta. Experimental.Visual. Poesia Portuguesa 1959-1989, Centro Cultural español da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris e na Universidade de Bolonha

1990
Beuys and Girls, Galeria Monumental, Lisboa
3ª Bienal Internacional de Poesia Visual Experimental y Alternativa en Mexico, Cidade do México
1991
Electrografias, Casa Bocage, Galeria de Artes Visuais, Setúbal

1993
Colectiva: Galeria Porta 33, Funchal, Ilha da Madeira e Casa da Madeira do Norte, Porto (produção Porta 33)

1993
Expo. Copy 93 — Exposição Internacional de Copygrafia, Matosinhos

1994
Festejar Abril, Lembrar Zeca Afonso, Galeria Cogito, Setúbal Electroarte, Galeria Ara Vala Comum, Lisboa

1996
5ª Bienal Internacional de Poesia Visual Experimental y Alternativa en Mexico, Cidade do México

Homenaje a Juan Ramón Jiménez, Exposición Internacional de Arte Correo Galería Fernando Serrano, Moguer

1997
Dear Gutenberg, Echternach, Luxemburgo

Bibliografía (selección)
Bibliography (a selection)

1987
Portugal – Poesie Visual – La Performance, nº 80 Hiver 87, ed. DOC(K)S, …….Ventabrenn, France

1989
Concreta, Experimental, Visual – Poesia portuguesa 1959-1989, ed. Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa