JOSÉ ANTÓNIO CARDOSO
"Pintura"
PORTA33 — Abril/Maio 1991
"Pintura"
PORTA33 — Abril/Maio 1991
José António Cardoso
“Pintura”
Quando um nome e uma obra surgem de um anonimato anterior o seu modo de aparecer não é indiferente, pois marca a leitura primeira que se vai fazendo de um trabalho; no caso de José António Cardoso o seu aparecer está imediatamente relacionado com a riqueza e a variedade de propostas pictóricas aparecidas entre nós nos anos oitenta. Cuidado, porém! A imagem mais comum que todos ligamos a esta década, ainda tão próxima, é a de explosão de nomes e de fazeres múltiplos, é a de um regresso ora irónico, ora entusiasmado, aos suportes mais tradicionais da pintura e da escultura; tal imagem não está errada, mas a década foi mais bem complicada do que isso no seu desenrolar. Os anos oitenta deram, primeiro, um surgir de alguns “arrependidos” do “terrorismo” estético dos anos sessenta/setenta redescobrindo com delícia o regresso à sensorialidade e à matéria depois da provocação e da ideia, foram, imediatamente a seguir, uma novíssima geração de artistas, bem apoiada por novos críticos também, e novos espaços de exposição, cuja formação se fez logo no fogo das exposições individuais e de grupo, das entrevistas e de algum vedetariado; os anos oitenta foram, também, os de contínuo aparecimento de outros trabalhos, obras mais lentas, mais amadurecidas, com um gosto da matéria que não era apenas um gosto dos e pelos efeitos, sem meninos prodígios, com menos espectáculo e, por ventura mais trabalho; é neste aparecer que posso situar José António Cardoso até numa certa contracorrente às modas da segunda metade da década que aconselhavam um novo, embora superficial, afastamento em relação à pintura e aos seus encantos materiais.
Sente-se, com este pintor, não um brusco surgir mas um lento vir à tona de um trabalho mais longo, ancorado em duas realidades fundamentais:
- A meditação sobre a matéria da pintura baseada num gosto que elege a terra e o surdo.
- A necessidade de significar ou de encenar significados buscando figuras, emblemas, ou repetições, sempre presentes, embora sempre discretas visualmente que são sempre mais do que um simples pretexto para pintar.
Obras assim, como estas, são para ver lentamente como lentamente têm crescido, como uma paixão contida mas não menos presente, num processo que se desenvolve por dentro de si mesmo, natural e necessário, de acrescentar o mundo com o trabalho do pintor.
“Pintura”
Testemunho sobre a sua pintura
Quando um nome e uma obra surgem de um anonimato anterior o seu modo de aparecer não é indiferente, pois marca a leitura primeira que se vai fazendo de um trabalho; no caso de José António Cardoso o seu aparecer está imediatamente relacionado com a riqueza e a variedade de propostas pictóricas aparecidas entre nós nos anos oitenta. Cuidado, porém! A imagem mais comum que todos ligamos a esta década, ainda tão próxima, é a de explosão de nomes e de fazeres múltiplos, é a de um regresso ora irónico, ora entusiasmado, aos suportes mais tradicionais da pintura e da escultura; tal imagem não está errada, mas a década foi mais bem complicada do que isso no seu desenrolar. Os anos oitenta deram, primeiro, um surgir de alguns “arrependidos” do “terrorismo” estético dos anos sessenta/setenta redescobrindo com delícia o regresso à sensorialidade e à matéria depois da provocação e da ideia, foram, imediatamente a seguir, uma novíssima geração de artistas, bem apoiada por novos críticos também, e novos espaços de exposição, cuja formação se fez logo no fogo das exposições individuais e de grupo, das entrevistas e de algum vedetariado; os anos oitenta foram, também, os de contínuo aparecimento de outros trabalhos, obras mais lentas, mais amadurecidas, com um gosto da matéria que não era apenas um gosto dos e pelos efeitos, sem meninos prodígios, com menos espectáculo e, por ventura mais trabalho; é neste aparecer que posso situar José António Cardoso até numa certa contracorrente às modas da segunda metade da década que aconselhavam um novo, embora superficial, afastamento em relação à pintura e aos seus encantos materiais.
Sente-se, com este pintor, não um brusco surgir mas um lento vir à tona de um trabalho mais longo, ancorado em duas realidades fundamentais:
- A meditação sobre a matéria da pintura baseada num gosto que elege a terra e o surdo.
- A necessidade de significar ou de encenar significados buscando figuras, emblemas, ou repetições, sempre presentes, embora sempre discretas visualmente que são sempre mais do que um simples pretexto para pintar.
Obras assim, como estas, são para ver lentamente como lentamente têm crescido, como uma paixão contida mas não menos presente, num processo que se desenvolve por dentro de si mesmo, natural e necessário, de acrescentar o mundo com o trabalho do pintor.
José Luís Porfírio
José António Cardoso expõe na PORTA 33
Jornal da Madeira
Ed. 23-04-91
Jornal da Madeira
Ed. 23-04-91