ZEN
Caligrafias Mestre Hogen San

Coordenação de Pedro Morais e Manuel Zimbro
PORTA33 — 27.09 — 15.10.1991
PORTA-FRANCISCO JANES PORTA-FRANCISCO JANES PORTA-FRANCISCO JANES PORTA-FRANCISCO JANES PORTA-FRANCISCO JANES PORTA-FRANCISCO JANES PORTA-FRANCISCO JANES PORTA-FRANCISCO JANES PORTA-FRANCISCO JANES PORTA-FRANCISCO JANES PORTA-FRANCISCO JANES PORTA-FRANCISCO JANES PORTA-FRANCISCO JANES PORTA-FRANCISCO JANES PORTA-FRANCISCO JANES PORTA-FRANCISCO JANES PORTA-FRANCISCO JANES PORTA-FRANCISCO JANES PORTA-FRANCISCO JANES PORTA-FRANCISCO JANES PORTA-FRANCISCO JANES PORTA-FRANCISCO JANES

Caligrafias Mestre Hogen San

Coordenação Pedro Morais e Manuel Zimbro

ZEN

HSIN - HSIN - MING

(INSCRIÇÃO SOBRE O ESPÍRITO AUTÊNTICO)

SENG-TS' AN


1 O Caminho Aberto não é difícil,
basta apenas nada escolher!
Se não houver nem ódio nem amor ele revelar-se-á com toda a claridade!

2 Um desvio da espessura dum cabelo,
e céu e terra ficam separados.
Para o encontrar
não sejam nem por nem contra nada!

3 No conflito entre o por e o contra, reside a doença do espírito!
Se desconhecerem o profundo significado das coisas,
inutilmente fatigar-se-ão a pacificar o espírito.

4 Perfeito como o vasto espaço,
nada falta ao Caminho, nada lhe fica de fora. Na verdade é porque escolhemos e repudiamos
que não somos livres.

5 Não persiguam o mundo sujeito à causalidade, não se demorem na vacuidade
Se o nosso espírito permanece sereno, o dualismo por si só desvanece-se.

6 Quando acaba o movimento, prevalece o repouso,
que por sua vez provocará ainda mais movimento
Ao ficarmos num ou noutro lado,
como podemos compreender Um?
7 Se não se compreender o Um original, movimento e repouso de nada servem.
Se seguirem os fenómenos, estes prendem-vos, se perseguirem a vacuidade, voltar-lhe-ão as costas.

8 Quanto mais falamos e mais especulamos, mais nos afastamos do Caminho.
Abandonem todo o discurso e reflexão
e não haverá um só lugar onde não possam livre- mente passar

9 Ao voltarem à raiz obterão o sentido correndo atrás das aparências, afastam-se do princípio.
Se num breve instante olharmos para dentro, ultrapassaremos a vacuidade das coisas.

10 Este mundo aparece-nos sujeito a transformações,
por causa dos nossos falsos pontos de vista.
Não é necessário procurarmos a verdade; basta pôr fim às opiniões

Este livro vem sublinhar a passagem pela Ilha da Madeira, em Novembro de 1991 de uma personalidade eminentemente viva da Escola Soto do Zen do Japão:

HOGEN DAIDO ROSHI

Aqui reproduzimos uma caligrafia sua, feita durante o retiro de Outono de 1990 no Algarve.

"KI" "Actividade invisível. No corpo é a energia de todas as células Impeto vital." O Hsin-Hsin-Ming (Inscrição sobre o Espírito Autêntico) é um dos primeiros tratados do Tch' an (Zen em japonês). O autor deste hino: Seng-ts'an é o terceiro patriarca do Tch'an depois de Boddhi-Dharma. Morreu nos começos do sec. VII. O presente hino consiste em 146 linhas não rimadas de quatro caracteres por linha.

O mundo numa ilha

A Galeria Porta 33, que no Funchal (R. Quebra Costas 33 A) continua a exercer importante acção de divulgação da arte actual, através da mostra de artistas de importância nacional e linguagem internacional, faz até dia 15 (todos os dias úteis das 15h às 20h), como que uma paragem de meditação...
"Zen", é o título da exposição de uma das mais particulares e simultaneamente universais linguagens de todos os tempos. Organizada por dois portugueses, Manuel Zimbro e Pedro Morais, para quem o Zen é um modo de entendimento do mundo e da vida, esta exposição apresenta caligrafias do mestre Hogen-San.
Não sendo uma exposição de "arte" no sentido ocidental e actual do termo, a montagem dos elementos que a constituem foi, no entanto, pensada de modo a valorizar um sentido absolutamente contemporâneo, testemunho de um outra vertente da intercomunicação entre esta filosofia oriental e a arte ocidental. Ao invés de uma montagem documental ou etnográfica os organizadores adoptaram uma solução criativa, dispondo as molduras com os caracteres desenhados no chão, em duas filas muito próximas, formando uma diagonal relativamente ao rectângulo da galeria. Em cada parede fronteira a tradução é gravada em letra de imprensa em placas de metal, formando assim mais duas filas. O resultado final aproxima-se nitidamente de uma solução conceptual. A velocidade da caligrafia desenhada com o pincel sobre o papel de arroz deriva da mão do mestre Zen-ele como que recita uma oração ao executar essa tarefa de concentração e liberdade. Se a imagem dos segmentos negros, da sua articulação, elegante e mágica, pode conter em si um potencial de beleza próprio, a sua tradução (apresentada na frieza mecânica do alfabeto latino) acrescenta-nos um imenso valor poético verbal: "sutra do coração"; "não-mental"; "aqui/agora"; "silencioso trovão"; "absolutamente nada"; "uma respiração" ou "lugar de silêncio"; "só isto"; "montanha de flores"; "vacuidade"; "energia profunda"; "poema alfabeto". Exercício de meditação e controlo, cada uma destas expressões adquire o valor de um pensamento, de um poema, de um modo de entender o mundo, como unidade dos contrários, de equilíbrio e energia que os poemas haiku tão bem desenvolvem.
Hogen-san, mestre da escola Soto do Budismo Zen do Japão veio este ano, pela quinta vez, visitar Portugal e dirigir sessões de Sesshins (retiros de meditação) - experiências de difícil tradução. E ele mesmo que nos fala dessa necessidade de viver a totalidade sem a pensar, sem a submeter a uma análise racional: "jejum de pensamentos, jejum de palavras, jejum de lógica e jejum de trabalho mental. (...). O silêncio é calmo e livre, sem intenção nem expectativa."

João Pinharanda, Público, 1991

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