MANUEL RODRIGUES
A(S) CULTURA(S) DA ARTE
PORTA33 — 06.09.2010 — 10.09.2010

O trabalho de si 25:28m

Pedagogia e exemplaridade 31:27m

e a intuição 17:24m

Imagem e semelhança – a arte no ensino e na cultura

Quem imita deve proceder de maneira a que o que escreve seja semelhante e não idêntico; não a semelhança entre imagem e aquilo que esta representa, louvável quanto mais semelhante, mas a que há entre pai e filho. Entre estes, ainda que haja muita diferença nas partes, há, contudo, uma sombra a que os nossos pintores chamam ‘ar’ (…)”1

Petrarca

Considerando o tema deste colóquio, Da civilização da palavra à civilização da imagem, decidi, partindo da minha experiência de há vários anos como professor de Estética no Ar.Co – escola de artes plásticas orientada por uma pedagogia centrada na experimentação e na procura de autonomia crítica, que faz questão em estar atenta às novidades –, abordar dois problemas que partilho com aqueles que se acham envolvidos, alunos e colegas, no processo de transmissão de uma cultura complexa e exigente2.

 

I

A.

O primeiro problema diz respeito, desde logo, à possibilidade de integrar a produção artística dos últimos cem anos3 numa linha que permita uma leitura coerente e consequente com a tradição clássica que até aí se desenvolveu4. Desde então, a explosão de objectos e acontecimentos artísticos ‘ansiosos’, tem colocado à teoria (e à escola) problemas nem sempre fáceis de ultrapassar.

1 “Curandum imitatori ut quod scribit simile non idem sit, eamque similitudinem talem esse oportere, non qualis est imaginis ad eum cuius imago est, que quo similior eo maior laus artificis, sed qualis filii ad patrem. In quibus cum magna sepe diversitas sit membrorum, umbra quedam et quem pictores nostri aerem vocant (...)”. Fam. XXIII 19 [lettera a Boccaccio, su Giovanni Malpaghini de Ravenna, 1366; Prose, Martellotti, ed. Ricciardi, pp.1019-1021].

2 Dado o contexto desta comunicação não é possível evitar o carácter sucinto no que concerne a algumas referências; mereceriam outro aprofundamento mas, como é evidente, torná-la-iam demasiado extensa.

3 É desde 1917, data arbitrária mas simbólica – a da exposição dos Independentes em Nova Iorque –, que se pode assinalar uma ruptura evidente com um tipo de representação que, por via do contraste operado por Duchamp, se diria hoje ‘fechada’.

4 Apesar de nesta ocasião não ser viável, ter presente a evolução paralela das demais formas de expressão plástica é de grande proveito para a discussão da globalidade do fenómeno da arte contemporânea, e para a compreensão dos problemas que coloca, na medida em que se cruzam e influenciam ao longo do seu desenvolvimento no tempo.

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