Curadoria de Miguel Wandschneider
PORTA33 — 28.02.2004 — 13.03.2004
PAL, preto e branco, sem som, 8 frames (em loop)
Três imagens – um cérebro, um cifrão e a frase “mind your own business” – entrelaçam-se a uma velocidade vertiginosa, superior à capacidade do olho humano para as apreender separadamente (cada imagem dura apenas dois frames, à velocidade de vinte e cinco frames por segundo). A velocidade a que imagens alternam, na iminência de se fundirem, obriga o espectador a uma experiência de percepção incomodativa, difícil de suportar por muito tempo, devolvendo-lhe com sentido irónico a afirmação contida no vídeo (“mete-te na tua vida”). Como noutras obras do artista, a equivalência literal entre o título e a organização dos elementos visuais produz uma abertura e instabilidade a nível semântico, convidando o espectador a introduzir a sua subjectividade no acto de percepção e interpretação. Mind Your Own Business foi originalmente criado num computador Amiga 2000 e transferido para VHS, até ser mais recentemente fixado em suporte DVD.
Video, preto e branco, sem som, 3’20’’ (em loop)
Este vídeo explora a animação de composições de forte acento gráfico construídas a partir da selecção, manipulação e recombinação de imagens digitais das mais diversas proveniências. Há, em todo o processo de construção das imagens, uma transposição para o domínio da linguagem visual, assinalada no título pela expressão “cut & paste”, das operações de samplagem e colagem de elementos pré-existentes que se generalizaram no domínio da música electrónica. A sobrecarga de signos visuais e linguísticos, assim como a permanente oscilação do olhar entre os elementos visuais e escritos, remetem para a experiência do mundo contemporâneo, marcada pela proliferação de estímulos e pelo exercício visual e cognitivo da sua decifração. Black & White & Cut & Paste inspira-se em colagens anteriores do artista, evidenciando estreitas afinidades formais com estas, em especial com as da série The Meanings That Don’t (1993)
PAL, cor, sem som, 00’07’’ (em loop)
Think About the Pain of Breathing assenta numa estrutura e num jogo de literalidade idênticos aos de Mind Your Own Business. João Paulo Feliciano volta a combinar três imagens, neste caso, um cérebro, um rosto esfolado em agonia e a frase que dá o título à peça. E estabelece, novamente, uma correspondência directa entre a experiência de percepção das imagens e o processo de significação que elas desencadeiam: as imagens fundem-se umas nas outras através de um efeito de morphing, segundo um ritmo que evoca o da respiração, propiciando uma resposta emotiva do espectador em consonância com a natureza e o sentido das imagens. O vídeo foi originalmente criado num computador Amiga 2000 e transferido para VHS, até ser mais recentemente fixado em suporte DVD. A deficiente qualidade do software de morphing de primeira geração utilizado e as diferenças formais entre as imagens conferem uma rudeza ao vídeo que contraria o efeito de transição fluída entre imagens visado pelo morphing, como se as imagens se debatessem no processo da sua formação.
PAL, cor, sem som, 19’20” ( em loop)
Este vídeo foi construído a partir de uma variedade de fontes visuais manipuladas através de um programa de processamento de imagem. Depois de distorcidas e de manipulada a sua cor, essas fontes visuais foram finalmente submetidas a um forte efeito de esbatimento horizontal, dando origem a um conjunto de 110 imagens digitais. Estas imagens foram então animadas num programa de edição de vídeo que as fundiu e harmonizou em sucessivas e lentas metamorfoses de cor e de luz. Flow Motion e a experiência de percepção visual que induz têm como horizonte de referência a pintura. É como uma pintura em contínua transformação – uma pintura abstracta que adquire uma sugestão de paisagem pela organização horizontal das manchas e um efeito atmosférico pela imaterialidade da cor e da luz.